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Sobre a região

                                                       Rio Tietê :  a história em suas margens

 

                                                                                “No Rio São Francisco navega o vapor, que navegou no Mississipi

                                                                                                                                                                                        O Rio São Francisco deságua sua dor no Tietê.”

                                                                                                                                                                                                           

                                                                                                                                                                                                         Edvaldo Santana, cantor e compositor 

Para falar da origem do bairro de Engenheiro Goulart, faz-se necessário remontar uma breve história da cidade de São Paulo, mais especificamente, da trajetória de vida do maior rio do estado: Tietê.

 

O Rio Tietê, um dos símbolos da cidade, tem sua história intrinsecamente relacionada às atividades humanas desenvolvidas em seu entorno.

 

 

Primeiros moradores

 

Antes da chegada dos portugueses, as margens desse rio já eram habitadas pelos indígenas, como revela o geógrafo Aziz Ab’Saber (2004):

 

 

“Foi nas bandas dos terrações, próximo da linha dágua, que se estabeleceram as aldeias indígenas, vivendo na primeira terra firme e tendo água para banho, para cozinhar e para beber, peixe para pescar.”

Tropeiros

 

Em 1681, São Paulo já então capital da capitania, torna-se importante centro de rotas comerciais. Na direção LESTE, margeando o rio, abria-se caminho para que os tropeiros chegassem ao Rio de Janeiro, e nesse percurso estabeleciam pontos de pouso para as tropas de burro.

 

 

Exploradores

 

Ainda no início do século XVII, descobriu-se ouro na várzea do Tietê, na região de Guarulhos, ou seja, mesma área de várzea de Engenheiro Goulart. O método utilizado para a extração consistia na lavagem direta dos cascalhos, através do desvio da drenagem da área a ser lavrada, com a construção de pequenos diques de cascalho e blocos.

 

 

Trabalhadores

 

Em 1711, com a chegada do café, São Paulo tem um significativo crescimento econômico, e a cidade passa por grandes transformações urbanas.

 

Entre 1867 e 1900, as várzeas começam a ser ocupadas pelas ferrovias, que trazem a instalação das primeiras indústrias que se beneficiavam dos transportes para o recebimento de matéria-prima e maquinários vindos de exterior. E, junto com o progresso, inicia-se o processo de degeneração do rio.

 

Nesse contexto, em 1926 é construída a estação de trem de Engenheiro Goulart, e com ela surgem loteamentos e construções das primeiras que dariam origem ao bairro do mesmo nome.

 

Meados do século XX, nas margens do rio, outras tantas atividades eram intensamente desenvolvidas na região, como descreve o antigo morador do bairro, Lúcio Bonato:

“ (...) esta terra era usada para olarias. Tínhamos duas: uma só fabricava tijolos, o barro era amassado e preparado com a ajuda de animais de tração; depois de preparado e feito o tijolo, este ia para forno de lenha, a lenha vinha da plantação de eucaliptos plantados na própria região. A outra olaria tinha o mesmo tipo de atuação, porém fabricava outros utensílios de barro, como telhas e vasos, além dos tijolos. Desta olaria mais conhecida como “Cerâmica”, temos ainda a chaminé, que fica perto da EACH-USP Leste, perto da Belgo Mineira. Outra atividade era a extração de areia, tínhamos três: O Porto do João Kumn, o Porto Ribeiro, com duas lagoas, e o Porto Langiani, com diversas lagoas. Essas lagoas, por causa das cheias do Tietê, se tornavam piscinas, o que era uma diversão para os moradores da região.”

 

A várzea, por sua terra fértil, era repleta de pequenas chácaras de hortaliças, mandiocas e flores cultivadas especialmente por famílias de japoneses e portugueses.

 

 

O Bairro

 

Até a década de 1970, o cotidiano assemelhava-se à vida das pequenas cidades do interior, isto é, todos se conheciam e se nutriam das atividades culturais coletivas, como descreve Nelson Barboza Leite, nascido e crescido no bairro:

“(...) O cinema do Sr. Medeiros; o queridíssimo Zé Barbudo e o seu time de futebol feminino, na época uma ousadia!; as brigas de futebol; as festas juninas da Dona Nega, do Seu Pedrinho e da Dona Helga; as famosas procissões; as pescarias nas Lagoas do Ribeiro; o sítio do João Kun (atualmente, o Parque Ecológico do Tietê); o truco e baralho de todos os dias no salão do Sr. Leopoldo (meu querido e saudoso pai); a comida da Dona Tita; as preocupações do mano Sergio para manter os jogos e o time do União Vila Silvia...”

No início dos anos 1980, com o propósito de preservar o que ainda restava da várzea e conter as cheias da cidade, foi inaugurado o Parque Ecológico do Tietê, visando aproveitar a área para atividades de lazer, esporte, cultura e preservar a fauna e flora. É considerada uma das grandes reservas ambientais do estado. Os projetos arquitetônicos foram confiados ao arquiteto Ruy Ohtake.

 

Em 2006, é inaugurado mais um campus da Universidade de São Paulo – Escola de Artes, Ciências e Humanidades, a USP-Leste – EACH.

 

Hoje, a região abriga também alguns centros de treinamento de times de futebol, como Corinthians e Portuguesa.

 

Vale lembrar Nóbrega, ressaltando a importância do rio:

"O Tietê deu a SP quanto possuía: o ouro das areias, a força das águas, a fertilidade das terras, a madeira das matas, os mitos do sertão. Despiu-se de todo encanto e de todo o mistério:

                                                                         despoetizou-se e empobreceu por São Paulo e pelo Brasil.”

O crescimento populacional das décadas seguintes e o descaso do poder público fizeram com que uma realidade cruel se abatesse nas regiões periféricas da cidade, sufocando e enfraquecendo as culturas locais existentes.

 

Hoje, vemos crescer um movimento de jovens artistas, poetas e pessoas interessadas no desenvolvimento cultural, despontando com muita força, lucidez e audácia. Por meio de intervenções poéticas, como saraus, grafites, vídeos, dentre outras formas de expressão, estão imprimindo um novo cenário nos locais mais distantes do centro da cidade.

 

O bairro conta com o Teatro Flávio Império, que homenageia o grande cenógrafo, arquiteto e artista plástico. Inaugurado em 1992, passa por grande reforma e terá seu nome alterado para Teatro Parque Flávio Império.

 

 

Bairros vizinhos

 

 

Penha

 

Historicamente, o bairro surge em 1668 por meio da sesmaria concedida ao Padre Matheus Nunes da Siqueira. Tem seu passado estreitamente ligado a práticas religiosas, crenças e ritos do catolicismo popular.

 

Memória e patrimônio estão presentes na Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos. Construída em 1802 com telhas de barro e paredes de taipas de pilão pelos escravos libertos e camadas populares, possibilitou manter viva a riqueza da nossa cultura vinda da África. Conforme Carlos José Ferreira dos Santos:

 

"(...)aquele território guarda memória de pessoas que resistiram com suas tradições em forma de fé, festas, cantorias, ladainhas, batuques."

 

Na igreja é celebrada todo primeiro domingo do mês a " Missa Afro", e em junho ocorre a grande "Festa da Igreja do Rosário dos Homens Pretos da Penha de França", com muitas cantorias e danças tradicionais vindas de vários lugares onde ainda preservam os ritos.

 

 

Ermelino Matarazzo

 

 

O bairro teve seu crescimento em 1950, com a migração de famílias à procura de emprego nas industrias que se fixaram nessa região. Empresas como Cia. Nitro-Química Brasileira, Celosul e Cia. Industrial São Paulo e Rio - CISPER contribuíram para o desenvolvimento da cultura operária. E, assim como o bairro de Engenheiro Goulart, mantinha características “acentuadamente provincianas".

 

Atualmente, vários artistas da região organizam-se em “coletivos”, promovendo diversas manifestações poéticas.

 

 

 

 

Fontes:

 

AB´SABER. Aziz. Natureza primária de São Paulo de Piratininga. Scientific American Brasil, edição 25, junho 2004, Duetto Editorial, 2004a.

 

ALCALDE, Emerson (organizador) Cultura ZL - Rede de Coletivos Ermelino Matarazzo, organizador Emerson Alcalde, 2013.

 

LOPES, Rodrigo Herrero. Face Leste - Revisitando a Cidade, Mitra Diocesana São Miguel Paulista, 2011

 

NÓBREGA, Humberto Mello. História do rio Tietê. São Paulo: Edusp/Itatiaia, 1981. Governo do Estado, 1978.

 

Recados - Mémoria das Relações entre Comunidade e o Patrimônio - Movimento Cultural da Penha, 2011.

 

ZANIRATO, Silvia Helena. – História da ocupação e das intervenções na várzea do rio Tietê. Revista Crítica Histórica, Ano ano II, Nº m. 4, Dezembrodezembro /de 2011.

 

 

Sites:

 

www.ecotiete.org.br

 

www.ecotiete.org.br/historico/historia

 

www.saopaulominhacidade.com.br/historia/engenheirogoulart

 

 

 

 

 

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